Do ponto de vista do Iluminismo, a ilusão deixa de ser uma simples deficiência subjetiva, e passa a enraizar-se em
contextos de dominação, de onde a ilusão deriva e se incumbe de estabilizar. O preconceito — a opinião falsa, não con-
trolável pela razão e pela experiência — revela seu substrato político. É no interesse do poder que a razão é capturada
pelas perturbações emocionais, abstendo-se do esforço necessário para libertar-se das paixões perversas, e para rom-
per o véu das aparências, que impedem uma reflexão emancipatória. Deixando-se arrastar pelas interferências, a razão
não pode pensar o sistema social em sua realidade. Prisioneira do dogmatismo, que nem pode ser submetido ao tribunal
da experiência nem permite a instauração desse tribunal, a razão está entregue, sem defesa, às imposturas da religião
e de todos os outros dogmas legitimadores.
(Sérgio Paulo Rouanet. A razão cativa, 1990. Adaptado.)
Considerando o texto e o título sugestivo do livro de Rouanet, explique as implicações políticas do cativeiro da razão e
defina o que significa a reflexão emancipatória referida pelo autor.