— Pela milionésima vez, por favor, “se amostrar” não existe.
Não pega bem usar uma expressão incorreta como essa.
— Ora veja, incorreto para mim é o que não faz sentido, “se
amostrar” faz sentido para boa parte do país.
— Por que você não usa um sinônimo mais simples da
palavra? Que tal “exibido”? Todo mundo conhece.
— Não dá, porque quem se exibe é exibido, quem se
amostra é amostrado. Por exemplo: quando os vendedores
de shopping olham com desprezo para os meninos dos
rolezinhos e moram no mesmo bairro deles, são exibidos.
Eles acham que a roupa de vendedor faz deles seres
superiores. Por outro lado, as meninas e os meninos dos
rolezinhos vão para os shoppings para se amostrar uns
para outros, e são, portanto, amostrados. Percebeu a
sutileza da diferença?
— Entendo, mas está errado.
— Como é que está errado se você entende? Você não
aceita a inventividade linguística do povo. “Amostrar” é
verbo torto no manual das conjugações e “amostrado” é
particípio de amostra grátis! Captou?
(Adaptado de Cidinha da Silva, Absurdada. Disponível em http://notarodape. blogspot. com/
search/label/Cotidiano. Acessado em 22/05/2019.)
Considerando que a comparação entre modos de falar
pode ser fonte de preconceito, o exemplo citado por uma
das personagens da crônica
a) reforça o preconceito em relação às turmas de jovens
de um mesmo bairro, com base nos significados de
“amostrado” e “exibido”.
b) explicita o preconceito, valendo-se de “amostrado” e
“exibido” para distinguir dois grupos de jovens do
mesmo bairro.
c) dissimula o preconceito e reconhece que “se amostrar”
é, de fato, um verbo que não está de acordo com as
normas gramaticais.
d) refuta o preconceito e confirma o desconhecimento da
regra de formação do particípio passado do verbo “se
amostrar”.