Texto 1
Os usos da carta
Considerada como um dos mais antigos meios de comunicação, a carta ainda hoje persiste e insiste, apesar dos
avanços tecnológicos da era comunicacional. Diversos autores como Mindlin (2000), Comte-Sponville (1997) e Galvão
(1998) consideram-na uma grande invenção, imbatível no campo da comunicação à distância, que não se deixou abalar
pelas invenções como o telefone, o fax ou mesmo o computador e a intemet. Para Mindlin (2000) e Comte-Sponville
(1997), as conversas por telefone são efêmeras, perdem-se facilmente ao término do diálogo, são rápidas, assim como os
emails em que há o predomínio das correspondências curtas. Para Galvão (1998), o fax propiciou fólego ao manuscrito,
uma vez que podemos enviar um texto tal qual uma carta — digitada ou de próprio punho, com desenhos, por exemplo,
mas com a rapidez exigida pelos tempos modernos que o correio ainda não acompanha; já o computador ampliou sua
dimensão para a simultaneidade das trocas que a escrita linear não permitiu. [...]
A carta permite a eternização do presente, dos ditos e trocas pessoais, muitas vezes de assuntos banais, que
podem ser relidos alguns anos depois. Diferentes das obras literárias, as trocas de correspondências não possuem a
finalidade de uma obra de arte endereçada ao público para toda a eternidade. Trata-se de uma “obra” de caráter privado,
um compartilhar entre contemporâneos que pode — no caso de personalidades públicas, como atestam inúmeros exemplos
= vir a público quer pela riqueza de seu conteúdo, quer pela curiosidade que despertam acerca da vida privada
Ld
A correspondência pode se prestar a dar conselhos e orientações. O exercício de pensamento e reflexão ende-
reçado a um outro servirá ao próprio autor como treinamento frente a situações similares que venha a enfrentar no futuro
e servirá para um aperfeiçoamento de sua própria conduta. A correspondência é este exercício de troca: o remetente, na
medida em que auxilia, consola, aconselha ou informa, beneficia a si mesmo e promove o crescimento do destinatário que
poderá futuramente retribuir de forma igualitária. [..]
Um dos mais antigos registros da história da epistolografia ocidental pode ser encontrado entre os filósofos da
Antiguidade Clássica, entre os quais Platão, Epicuro e Isócrates. Sob forma de cartas, muitos textos eram destinados ao
ensino; outras na forma de cartas abertas, públicas, com temas de interesse coletivo, eram endereçadas a indivíduos com
posições sociais significativas, e, mesmo as cartas de caráter reservado, não perderam sua relevância histórica, política ou
filosófica (Miranda, 2000). As cartas prestavam-se a descrições de viagens, impressões de novos lugares, considerações
sobre o regime político em vigor, assim como aconselhamentos e mesmo exercício intelectual tomando-se ela mesma
material de reflexão. [..]
Fragmento adaptado de GORRESE, Gisela. O amor nas entrelinhas: cartas de fãs de telenovelas. Dissertação (Mestrado em Psicologia) —
Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2002. p. 5-21
a) De acordo com o texto 1, explique como as cartas podem contribuir para o amadurecimento tanto do remetente como
do destinatário.
b) Osverbos persistir e insistir foram empregados sem complementação no seguinte trecho do texto 1: “Considerada como
um dos mais antigos meios de comunicação, a carta ainda hoje persiste e insiste, apesar dos avanços tecnológicos da
era comunicacionar
Preencha a lacuna com um complemento verbal adequado, de modo que a coerência do texto seja mantida
Considerada como um dos mais antigos meios de comunicação, a carta ainda hoje persiste e insiste
, apesar dos avanços tecnológicos da era comunicacional.