Em nenhum lugar, porém, a insurgência dessa nova ordem
cultural se deu sem enfrentar fortes resistências. Em São
Paulo, particularmente, as circunstâncias ainda lhe eram
algo adversas. O impacto avassalador da Guerra chegou
aqui arrefecido nos seus efeitos culturais, quer pela
atenuante da distância e das comunicações precárias, quer
pela participação irrelevante do Brasil no conflito. O
equilíbrio dominante era conservador, com limitada
flexibilidade e mesmo tolerância, para se revestir do novo
prestígio das tinturas modernas.
SEVCENKO, Nicolau. Orfeu extático na metrópole: São Paulo,
sociedade e cultura nos frementes anos 20. São Paulo: Companhia das
Letras, 1992, p. 34.
A transformação de São Paulo em uma cidade cosmopolita
decorreu de um rápido processo de urbanização e de
industrialização. A transformação da cidade em metrópole
tem momentos de conflito, como a Semana de Arte
Moderna, de 1922, e a incompreensão de parte do público
quanto às propostas apresentadas na Semana.
Essa foi uma transformação complexa e com contradições
significativas entre os portadores de valores modernos e a
estrutura social de São Paulo na década de 1920.
Esse conflito pode ser caracterizado a partir de questões
como
a) os valores modernos, que representavam a afirmação
da nacionalidade brasileira a partir da arte, em oposição
à crescente insatisfação dos imigrantes quanto à
desvalorização das manifestações culturais tradicionais.
b) as tinturas modernas presentes na arte e a
industrialização, com sua consequente transformação
da cidade em metrópole, o que descontentava a elite
industrial paulistana.
c) a difusão dos conceitos e valores modernos, o que foi
crescente durante a década de 1920, porém com
limitada capacidade de propagação e adesão em razão
do equilíbrio conservador presente na sociedade
paulistana.
d) a utilização da arte moderna pelos imigrantes
estrangeiros como forma de afirmação das suas
tradições culturais, o que desagradava o equilíbrio
conservador da sociedade paulistana.
e) a adesão dos operários paulistanos aos valores
modernos, para manifestar sua insatisfação com as
condições de trabalho nas fábricas controladas pela
elite industrial conservadora.