Oito centímetros impediram o sepultamento de D. Pedro |
O governo militar, sob a chefia do general Emílio Garrastazu Médici, não poupou esforços
para transformar as comemorações dos 150 anos da Independência numa enorme celebração
nacional. Seu ponto alto? A vinda de Portugal dos restos mortais de nosso primeiro
imperador, Dom Pedro I. Em 1971, o presidente de Portugal concordou em transladar e
presentear o Brasil com os restos mortais do imperador, deixando claro que o coração não
viria e permaneceria na cidade do Porto, já que o próprio D. Pedro o deixou, em testamento,
à cidade. O presidente Médici expressou, em rede nacional de televisão e rádio: “Brasileiros,
não posso esconder minha emoção. Fala por si mesmo este fato que nenhuma eloquência
poderia superar: no ano em que celebramos o Sesquicentenário da nossa Independência,
regressará ao Brasil o corpo daquele que, em Sete de Setembro, às margens do Ipiranga, com
a bravura, o arroubo e a paixão que eram a marca de sua personalidade, proclamou livres
estas terras.” Mas, quase como uma anedota, o caixão feito em Portugal não coube no lugar
onde deveria ser colocado na Capela Imperial, no Ipiranga. Apenas quatro anos depois do
Sesquicentenário da Independência, o sarcófago de D. Pedro I foi devidamente disposto no
mausoléu para ele construído.
LIZ BATISTA
Adaptado de m.acervo.estadao.com.br, 15/02/2013.
Conserva de imperador
O governo brasileiro requereu a Portugal que, no âmbito das comemorações dos 200 anos
da Independência, enviasse para o Brasil o coração de Dom Pedro, guardado numa igreja
da cidade do Porto. O pedido tem o seu quê de bizarro. Imagino que a miudeza real vá ser
exposta e contemplada no Brasil, o que me parece sinceramente ficar aquém da data. Uma
celebração competente do Bicentenário da Independência devia incluir, além do coração de
Dom Pedro, um rim de José Bonifácio, o pâncreas de Thomas Cochrane, o fígado de Cipriano
Barata e, talvez para dar um toque de ironia à cerimônia, um dente de Tiradentes. Creio que,
com esse rodízio de vísceras, ficaria a efeméride mais bem assinalada.
RICARDO ARAÚJO PEREIRA
Adaptado de m.folha.uol.com.br, 09/07/2022.
Os textos apresentam ações governamentais associadas ao Sesquicentário da Independência
do Brasil, em 1972, e a seu Bicentenário, em 2022.
Um aspecto comum dessas ações governamentais é:
(A) culto ufanista de protagonistas oficiais
(B) enaltecimento patriótico da unidade lusa
(C) reparação histórica de heranças europeias
(D) reabilitação contemporânea da continuidade monárquica