Cidade relembra cerco que a fez queimar livros de Paulo Freire
Maria Eneide Araújo, de 63 anos, escondeu seus cadernos embaixo do colchão. Não queria
perder a recordação da alfabetização, mas não teve jeito. Os boatos de que aquelas anotações
poderiam levar seu pai e sua mãe presos, após o golpe militar de 1964, fizeram com que
Eneide as entregasse, e todas foram queimadas. Em Angicos, no sertão do Rio Grande do
Norte, outras pessoas fizeram o mesmo naqueles meados dos anos 1960: quem não queimou
enterrou cadernos e livros que os ligassem às aulas dos monitores orientados por Paulo Freire.
A cidade potiguar recebeu em 1963 o primeiro experimento do método criado pelo educador
para alfabetização de adultos, e o objetivo era ambicioso: ensinar 300 pessoas a ler em 40
horas de aulas, em projeto que ficou conhecido como as 40 horas de Angicos. Passados 57
anos, Freire e seu método baseado no uso de palavras e vivências do cotidiano dos alunos são
hoje o principal alvo da política educacional do governo federal.
MARCEL RIZZO
Adaptado de Folha de São Paulo, 04/02/2020.
O episódio relatado na reportagem, assim como a prisão e o exílio do pesquisador Paulo Freire,
estiveram associados às ações repressoras instituídas logo após a deposição do presidente João
Goulart, em 1964.
Naquela conjuntura política, os novos governantes justificaram ações dessa natureza alegando
a necessidade de evitar um contexto de:
(A)
(B)
(C
(D
democratização da prática pedagógica
ideologização da cultura popular
) subversão de propostas liberais
)
propagação de ideais comunistas