No breve “Prólogo da 3º edição” das Memórias póstumas de Brás Cubas, assinado pelo autor, Machado de
Assis, constava o seguinte trecho:
Capistrano de Abreu, noticiando a publicação do livro, perguntava: “As Memórias póstumas de Brás
Cubas são um romance?” Macedo Soares, em carta que me escreveu por esse tempo, recordava amigamente as
Viagens na minha terra. Ao primeiro respondia já o defunto Brás Cubas (como o leitor viu e verá no prólogo
dele que vai adiante) que sim e que não, que era romance para uns e não o era para outros. Quanto ao
segundo, assim se explicou o finado: “Trata-se de uma obra difusa, na qual eu, Brás Cubas, se adotei a forma
livre de um Sterne ou de um Xavier de Maistre, não sei se lhe meti algumas rabugens de pessimismo”. Toda
essa gente viajou: Xavier de Maistre à roda do quarto, Garrett na terra dele, Sterne na terra dos outros. De Brás
Cubas se pode talvez dizer que viajou à roda da vida.
O que faz do meu Brás Cubas um autor particular é o que ele chama “rabugens de pessimismo”. Há na
alma deste livro, por mais risonho que pareça, um sentimento amargo e áspero, que está longe de vir dos seus
modelos. É taça que pode ter lavores de igual escola, mas leva outro vinho.
Machado de Assis
Considerando esse trecho no contexto da obra à qual se incorpora, atenda ao que se pede.
a) Identifique um aspecto das Memórias póstumas de Brás Cubas capaz de ter suscitado a dúvida expressa
por Capistrano de Abreu. Explique resumidamente.
b) Em que consistem os “lavores de igual escola”, a que se refere o autor, no final do trecho? Explique
sucintamente.