Leia a crônica abaixo — “A sociedade líquida”, de 2015 -, escrita pelo filósofo italiano Umberto Eco, que serve de introdução
ao último livro do escritor, Pape Satan Aleppe: crônicas de uma sociedade líquida, publicado postumamente.
A ideia de modernidade ou sociedade “líquida” deve-se, como todos sabem, a Zygmunt Bauman. A sociedade líquida começou a
delinear-se com a corrente conhecida como pós-moderno (aliás, um termo “guarda-chuva” sobre o qual se amontoam diversos
fenômenos, da arquitetura à filosofia e à literatura, e nem sempre de modo coerente). O pós-modernismo assinalava a crise das
“grandes narrativas” que se consideravam capazes de impor ao mundo um modelo de ordem e fazia uma revisitação lúdica e irônica
do passado, entrecruzando-se em várias situações com pulsões niilistas. Mas para Bordoni, o pós-modernismo também conheceu
uma fase de declínio. [...] Servia para assinalar um acontecimento em andamento e representou uma espécie de balsa que levava
da modernidade a um presente ainda sem nome. Para Bauman, entre as características deste presente nascente podemos incluir a
crise do Estado (que liberdade de decisão ainda têm os Estados nacionais diante dos poderes das entidades supranacionais?).
Desaparece assim uma entidade que garantia aos indivíduos a possibilidade de resolver de modo homogêneo vários problemas do
nosso tempo, e, com sua crise, despontaram a crise das ideologias, portanto, dos partidos e, em geral, de qualquer apelo a uma
comunidade de valores que permita que o indivíduo se sinta parte de algo capaz de interpretar suas necessidades. Com a crise do
conceito de comunidade, emerge um individualismo desenfreado, onde ninguém é mais companheiro de viagem de ninguém, e sim
seu antagonista, alguém contra quem é melhor se proteger. Esse “subjetivismo” solapou as bases da modernidade, que se
fragilizaram, dando origem a uma situação em que, na falta de qualquer ponto de referência, tudo se dissolve numa espécie de
liquidez. Perde-se a certeza do direito (a justiça é percebida como inimiga) e as únicas soluções para o indivíduo sem pontos de
referência são o aparecer a qualquer custo, aparecer como valor [...], e o consumismo. Trata-se, porém, de um consumismo que
não visa a posse de objetos de desejo capazes de produzir satisfação, mas que torna estes mesmos objetos imediatamente
obsoletos, levando o indivíduo de um consumo a outro numa espécie de bulimia sem escopo (o novo celular nos oferece pouquíssimo
a mais em relação ao velho, mas descarta-se o velho apenas para participar dessa orgia do desejo).
O que poderá substituir esta liquefação?
Elabore um texto a partir da pergunta que fecha o texto de U. Eco. Seu texto deverá:
= contextualizar a temática;
« identificar características relevantes da sociedade atual apontadas por U. Eco;
= dialogar com essa caracterização, apresentando uma reflexão na direção proposta pela pergunta;
= "apresentar as razões que embasam a reflexão que você está desenvolvendo;
= terentre 10 e 15 linhas;
= respeitar as características discursivo-formais do gênero solicitado.