O romance Nove noites apresenta o antropólogo Buel Quain como um aluno da antropóloga estadunidense Ruth
Benedict. Ambos são personagens reais e atuaram, efetivamente, como pesquisadores da área. A tentativa de
representar aspectos ligados aos povos indígenas retoma uma temática da Literatura Brasileira presente, ao menos,
desde a poesia de Gonçalves Dias e de outros indianistas anteriores e posteriores a ele. Considerando isso, leia o
trecho abaixo, extraído de um ensaio de Ruth Benedict, originalmente publicado em 1934:
Nem a razão para usar as sociedades primitivas para discutir as formas sociais tem necessária relação com uma volta romântica
ao primitivo. Essa razão não existe com o espírito de poetizar os povos mais simples. Existem muitos modos pelos quais a
cultura de um ou outro povo nos atrai fortemente nesta era de padrões heterogêneos e de tumulto mecânico confuso. Mas não
é por meio de um regresso aos ideais preservados para nós pelos povos primitivos que a nossa sociedade poderá curar-se de
suas moléstias. O utopismo romântico que se dirige aos primitivos mais simples, por mais atraente que seja, às vezes tanto
pode ser no estudo etnológico, um empecilho como um auxílio.
(BENEDICT, Ruth: “A ciência do costume”. PIERSON, Donald. 1970. Estudos de organização social: leituras de sociologia e antropologia social. Tomo
||. Tradução de Olga Dória. São Paulo: Martins. p. 497-513.)
Considerando a leitura integral de Nove Noites e a leitura do trecho extraído da obra da antropóloga, assinale a
alternativa em que a representação dos “povos primitivos” é condicionada pelo que a autora denomina de “utopismo
romântico”, ou, segundo definição dela mesma, o “espírito de poetizar os povos mais simples”.
a) “Não entendia o que dera na cabeça dos índios para se instalarem lá, o que me parecia de uma burrice incrível, se não
um masoquismo e mesmo uma espécie de suicídio”.
b) “São órfãos da civilização. Estão abandonados. Precisam de alianças no mundo dos brancos, um mundo que eles tentam
entender com esforço e em geral em vão. [...] Há quem tire de letra. Não foi o meu caso. Não sou antropólogo e não tenho
uma boa alma. Fiquei cheio”.
c) “Os índios costumavam beber aquelas águas, pescar e a se banhar nelas, até o dia em que começaram a cair doentes,
um depois do outro, e foram morrendo sem explicação. [...] Com o tempo descobriram a causa do envenenamento do rio
Vermelho. Um hospital, construído rio acima, [...] estava despejando o lixo hospitalar naquelas águas”.
d) “Tanto os brasileiros como os índios que tenho visto são crianças mimadas que berram se não obtêm o que desejam e
nunca mantêm as suas promessas, uma vez que você lhe dá as costas. O clima é anárquico e nada agradável”.
e) “Na primeira noite, ele me falou de uma ilha no Pacífico, onde os índios são negros. Me falou do tempo que passou entre
esses índios e de uma aldeia, que chamou de Nakoroka, onde cada um decide o que quer ser, pode escolher sua irmã,
seu primo, sua família, e também sua casta, seu lugar em relação aos outros [...] o sonho de aventura do menino
antropólogo”.