QUEDE ÁGUA?
A seca avança em Minas,
Rio, São Paulo.
O Nordeste é aqui, agora.
No tráfego parado onde me enjaulo,
vejo o tempo que evapora.
Meu automóvel novo mal se move,
enguanto no duro barro,
no chão rachado da represa
onde não chove,
surgem carcaças de carro.
Os rios voadores da Hileia
mal desaguam por aqui,
e seca pouco a pouco
em cada veia o Aquifero Guarani.
Assim, do São Francisco a San Francisco,
um quadro aterra a terra:
por água, por um córrego, um chuvisco,
nações entrarão em guerra
Quede água? Quede água?
(...)
Quando em razão
de toda a ação “humana”
e de tanta desrazão,
a selva não for salva
e se tornar savana;
e o mangue, um lixão;
quando minguar o Pantanal,
e entrar em pane
a Mata Atlântica, tão rara;
e o mar tomar toda cidade litorânea,
e o sertão virar Saara;
e todo grande rio virar areia,
sem verão virar outono;
e a água for commodity alheia,
com seu ônus e seu dono;
e a tragédia da seca, da escassez,
cair sobre todos nós,
mas sobretudo sobre os pobres,
outra vez sem terra, teto, nem voz;
Quede água? Quede água?
Lenine e Carlos Rennó
Carbono. Universal Music, 2015.
As discussões sobre o problema da seca vêm se ampliando nos dias atuais. Várias regiões do
planeta que antes não eram atingidas por esse fenômeno já sentem seus efeitos, como destaca
a letra da canção.
Aponte uma consequência da seca para as atividades humanas e uma para a dinâmica natural
da Terra.