Cesário Verde cultivou um realismo permeado
por impressões acerca da vida urbana. A
dinâmica da cidade e seus avanços tecnológicos
não fascinam o poeta. Seus versos mostram,
sutilmente, que a prática antiética capitalista,
fundamentada na exploração econômica, é
mascarada pelo suposto progresso das cidades.
Assinale os versos que confirmam essa ideia.
O “não desejemos, - nós, os sem defeitos -,
que os tísicos pereçam! má teoria,
se pelos meus o apuro principia,
se a morte nos procura em nossos leitos!
O “hoje entristeço. Lembro-me dos coxos,
dos surdos, dos manhosos, dos manetas.
Sulcavam as calçadas, as muletas;
cantavam, no pomar, os pintarroxos!”
© “contudo, nós não temos na fazenda,
nem uma planta só de mero ornato!
cada pé mostra-se útil, é sensato,
por mais aromas que recenda!”
O “esinto, se me ponho a recordar
tanto utensílio, tantas perspectivas,
as tradições antigas, primitivas,
e a formidável alma popular!
© “semelham-se a gaiolas, com viveiros,
as edificações somente emadeiradas:
como morcegos, ao cair das badaladas,
saltam de viga em viga os mestres
[carpinteiros.”