A maior violação do dever de um ser humano consigo
mesmo, considerado meramente como um ser moral (a hu-
manidade em sua própria pessoa), é o contrário da veracida-
de, a mentira [...]. A mentira pode ser externa [...] ou, inclusi-
ve, interna. Através de uma mentira externa, um ser humano
faz de si mesmo um objeto de desprezo aos olhos dos outros;
através de uma mentira interna, ele realiza o que é ainda pior:
torna a si mesmo desprezível aos seus próprios olhos e viola
a dignidade da humanidade em sua propria pessoa [...]. Pela
mentira um ser humano descarta e, por assim dizer, aniquila
sua dignidade como ser humano. [...] É possível que [a men-
tira] seja praticada meramente por frivolidade ou mesmo por
bondade; aquele que fala pode, até mesmo, pretender atingir
um fim realmente benéfico por meio dela. Mas esta maneira
de perseguir este fim é, por sua simples forma, um crime de
um ser humano contra sua própria pessoa e uma indignidade
que deve torná-lo desprezível aos seus próprios olhos.
(Immanuel Kant. A metafísica dos costumes, 2010.)
Em sua sentença dirigida à mentira, Kant
(A) considera a condenação relativa e sujeita a justificativas,
de acordo com o contexto.
(B) assume que cada ser humano particular representa toda
a humanidade.
(C) apresenta um pensamento desvinculado de pretensões
racionais universalistas.
(D) demonstra um juízo condenatório, com justificação em
motivações religiosas.
(E) assume o pressuposto de que a razão sempre é gover-
nada pelas paixões.