Texto 3
A pátria
Ama, com fé e orgulho, a terra em que nascestel
Criançal não verás nenhum país como este!
Olha que céul que mar! que rios! que florestal
A Natureza, aqui, perpetuamente em festa,
s É um seio de mãe a transbordar carinhos.
vê que vida há no chão! vê que vida há nos ninhos,
Que se balançam no ar, entre os ramos inquietos!
vê que luz, que calor, que multidão de insetos!
Vê que grande extensão de matas, onde impera
40 Fecunda e luminosa, a eterna primaveral
Boa terral Jamais negou a quem trabalha
O pão que mata a fome, o teto que agasalha...
Quem com o seu suor a fecunda e umedece,
vê pago o seu esforço, e é feliz, e enriquecel
45 Criançal não verás país nenhum como est
Imita na grandeza a terra em que nascestel
BILAC, Olavo. Disponível em: . Acesso em: 10 jul. 2015.
Texto 4
— Tio, os conceitos de nação mudaram. O que vale agora é o internacionalismo. A multiplicidade. Aqui é um pe-
dacinho. Você soma com os pedacinhos que temos por aí afora. Reservas no Uruguai, na Bolívia, pedação do Chile,
na Venezuela. Cada savana na África, quero ser transferido para a África, triplica o soldo e a gente tem casa, comida,
economiza.
5 — Pois é, entregamos o nosso e fomos colonizar outros territórios.
— Não é colonização, tio, é diferente. São reservas multinternacionais. O mundo se globaliza.
— Talvez eu seja velho, com ideias antigas na cabeça. Mas queria meu país inteiro, não um mundo de países
dentro do meu, como acontece. Eu te contei daquela viagem. Quis chegar a Manaus e nunca cheguei. Não podia ir lá,
fui rodeando, tive que voltar. Foi mais difícil atravessar a Rondônia do que conseguir permissão para cruzar a Bolívia
10 — Sua visão é limitada, tio. O senhor pensa em termos individuais, restringe-se a um regionalismo superado.
Raciocine em termos mais amplos. Nossa economia, por exemplo, nunca esteve tão forte
— Forte? Ninguém tem dinheiro. O país endividado. Não há mais terras para plantio. Tudo custa os olhos da cara,
estamos importando tudo.
— Importamos pouca coisa.
15 — Pouquíssima. Sal, açúcar, minério de ferro, xisto, feijão, eletricidade, papel, plásticos. Quer a lista inteira?
— Não são importações, são acordos feitos quando das negociações com as terras.
— Como é que você não enxerga? Importamos de nós mesmos. Mandamos buscar ali em cima, onde antes era
o norte do Mato Grosso, o Maranhão, o Pará.
— Lembre-se que as concessões não são etemas. Tem um prazo.
2 — Eu vi. O ano passado esgotou-se o prazo da concessão para a Bélgica. E eles devolveram os trechos que
mantinham em Goiás? Não, o Esquema comprou. Comprou uma coisa que seria dele, de graça, este ano.
— Foi diferente. Tinha melhorias, projetos industriais, edifícios, plantações, laboratórios.
— Ruínas, tudo ruínas.
BRANDÃO, Ignacio de Loyola. Não verás país nenhum (memorial descritivo). Rio de Janeiro: Editora Codecri, 1981, pp.73-4.
a) Apartir da leitura comparativa dos Textos 3 e 4, determine os distintos sentidos de nação e/ou pátria que aparecem em
ambos.
b) Olavo Bilac é tradicionalmente considerado um dos mais importantes representantes do Pamasianismo. Apesar disso,
pode-se constatar que o poema “A pátria” não segue rigidamente os pressupostos da estética pamasiana. Comente,
com suas próprias palavras, tal afirmação.