Descreve com galharda propriedade o labirinto confuso de suas desconfianças
Ó caos confuso, labirinto horrendo,
Onde não topo luz, nem fio achando;
Lugar de glória, aonde estou penando;
Casa da morte, aonde estou vivendo!
Oh voz sem distinção, Babel” tremendo;
Pesada fantasia, sono brando;
Onde o mesmo que toco, estou sonhando;
Onde o próprio que escuto, não o entendo;
Sempre és certeza, nunca desengano;
E a ambas pretensões com igualdade,
No bem te não penetro, nem no dano.
És ciúme martírio da vontade;
Verdadeiro tormento para engano;
E cega presunção para verdade
*Babel: bíblico, torre inacabada por castigo divino; quando de sua construção os homens viram
seus idiomas se confundirem, gerando o desentendimento que os obrigou a se dispersarem.
Por extensão, desentendimento, confusão.
(MATOS, Gregório de. Poemas escolhidos. Seleção e organização: José Miguel Wisnik. São
Paulo: Companhia das Letras, 2010. p. 219.)
O soneto transcrito apresenta características recorrentes da poesia de Gregório de
Matos e do período literário em que ele o escreveu, o Barroco. Acerca desse soneto, é
correto afirmar:
a) O poema descreve um labirinto e, de modo semelhante à imagem descrita, utiliza uma
linguagem em que a ideia central só se apresenta no fim do texto.
b) O poema se apropria de duas imagens, Babel e labirinto, com a intenção de tematizar um
sentimento conturbado: a presunção.
e) O poema se estrutura como um soneto típico, em que a ideia central está apresentada no
primeiro quarteto.
d) As figuras de linguagem utilizadas associam ideias contrárias, o que se contrapõe às
imagens do labirinto e de Babel
e) O poema apresenta nos quartetos duas imagens concretas, dissociadas das abstrações
apresentadas nos tercetos.