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Texto IV
Produzir e divulgar livros em Portugal, no
século XV, estava longe de ser uma tarefa tranquila.
Em 1451, no mesmo ano em que Johannes
Gutemberg (1400-1468) revolucionava a Europa
com a prensa mecânica, o rei Afonso V (1432-1481)
promulgava um alvará mandando queimar livros
falsos ou heréticos, difundidos ainda como
manuscritos. Foi sob este clima de forte repressão
cultural que o país adotou a tipografia, por volta de
1490. Durante o reinado de D. Manuel I, entre 1495
e 1521, o ofício ganhou impulso, graças à ação
empreendedora de Valentin Fernandes, um alemão
de nome lusitano. Essa expansão, porém, não
significou o fim da repressão.
(ZILBERMAN, Regina. Letras entre a cruz e a espada. In: Revista
História. Ano 2, nº 19, 2005, p.68).
A censura à publicação de livros no Império
Português do século XVI, no contexto de
expansão da arte tipográfica na Europa, se explica
pelo fato de(a):
O difusão das ideias humanistas através de
obras de grande tiragem produzidas por
escritores renascentistas portugueses como
Luís de Camões e Gil Vicente, ferozes
opositores da doutrina católica.
O preocupação geopolítica de controlar a difusão
de ideias religiosas e políticas nas colônias
americanas, de modo a conter a notória
expansão religiosa protestante na América
Portuguesa, como ocorreu com a instalação da
França Antártica.
O criação da tipografia ser avaliada pelo Tribunal
do Santo Ofício como uma ameaça ao domínio
ideológico católico na Península Ibérica, já
abalado pela forte presença religiosa islâmica.
O nova tecnologia ser vista pelo estado
português de forma ambivalente: tanto como
revolução cultural como instrumento de
subversão dos princípios morais da sociedade
civil e religiosa.
O invenção dos tipos móveis ter sido feita por
um alemão protestante, o que assinalava o
perigo do domínio político-religioso alemão da
nova tecnologia, num contexto de disputa por
espaços coloniais entre as potências
europeias.