O poeta Vinicius de Moraes, apesar de modernista, explorou formas clássicas como o soneto abaixo, em
versos alexandrinos (12 sílabas) rimados:
Soneto da intimidade
Nas tardes de fazenda há muito azul demais.
Eu saio às vezes, sigo pelo pasto, agora
Mastigando um capim, o peito nu de fora
No pijama irreal de há três anos atrás.
Desço o rio no vau dos pequenos canais
Para ir beber na fonte a água fria e sonora
E se encontro no mato o rubro de uma amora
Vou cuspindo-lhe o sangue em torno dos currais.
Fico ali respirando o cheiro bom do estrume
Entre as vacas e os bois que me olham sem ciúme
E quando por acaso uma mijada ferve
Seguida de um olhar não sem malícia e verve
Nós todos, animais, sem comoção nenhuma
Mijamos em comum numa festa de espuma.
(Vinicius de Moraes, Antologia poética. São Paulo: Companhia
das Letras, 2001, p. 86.)
a) Essa forma clássica tradicionalmente exigiu tema e linguagem elevados. O “Soneto da intimidade” atende a
essa exigência? Justifique.
b) Como os quartetos anunciam a identificação do eu lírico com os animais? Como os tercetos a confirmam?