Os trechos a seguir foram extraídos de A cidade e as serras, de Eça de Queirós.
Mas dentro, no peristilo, logo me surpreendeu um elevador instalado por Jacinto — apesar do 202 ter somente dois andares, e
ligados por uma escadaria tão doce que nunca ofendera a asma da Sr?. D. Angelina! Espaçoso, tapetado, ele oferecia, para aquela
jornada de sete segundos, confortos numerosos, um divã, uma pele de urso, um roteiro das ruas de Paris, prateleiras gradeadas
com charutos e livros. Na antecâmera, onde desembarcamos, encontrei a temperatura macia e tépida duma tarde de Maio, em
Guiães. Um criado, mais atento ao termômetro que um piloto à agulha, regulava destramente a boca dourada do calorífero. E
perfumadores entre palmeiras, como num terraço santo de Benares, esparziam um vapor, aromatizando e salutarmente
umedecendo aquele ar delicado e superfino.
Eu murmurei, nas profundidades do meu assombrado ser:
— Eis a Civilização!
— Meus amigos, há uma desgraça...
Dornan pulou na cadeira: — Fogo?
— Não, não era fogo. Fora o elevador dos pratos que inesperadamente, ao subir o peixe de S. Alteza, se desarranjara, e não se
movia, encalhado!
(..)
O Grão-Duque lá estava, debruçado sobre o poço escuro do elevador, onde mergulhara uma vela que lhe avermelhava mais a
face esbraseada. Espreitei, por sobre o seu ombro real. Em baixo, na treva, sobre uma larga prancha, o peixe precioso alvejava,
deitado na travessa, ainda fumegando, entre rodelas de limão. Jacinto, branco como a gravata, torturava desesperadamente a mola
complicada do ascensor. Depois foi o Grão-Duque que, com os pulsos cabeludos, atirou um empuxão tremendo aos cabos em que
ele rolava. Debalde! O aparelho enrijara numa inércia de bronze eterno.
(Eça de Queirós, A cidade e as serras. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2006, p. 28, p. 63.)
a) Levando em consideração os dois trechos, explique qual é o significado do enguiço do elevador.
b) Como o desfecho do romance se relaciona com esse episódio?