São Paulo, 18 de agosto de 1929
Carlos [Drummond de Andrade],
Achei graça e gozei com o seu
entusiasmo pela candidatura Getúlio Vargas —
João Pessoa. É. Mas veja como estamos...
trocados. Esse entusiasmo devia ser meu e sou
eu que conservo o ceticismo que deveria ser de
você. (...)
Eu... eu contemplo numa torcida apenas
simpática a candidatura Getúlio Vargas, que
antes desejara tanto Mas pra mim,
presentemente, essa candidatura (única aceitável,
está claro) fica manchada por essas pazes
fragilimas de govemistas mineiros, gaúchos,
paraibanos (...), com democráticos paulistas (que
pararam de atacar o Bernardes) e oposicionistas
cariocas e gaúchos. Tudo isso não me entristece
Continuo reconhecendo a existência de males
necessários, porém me afasta do meu país e da
candidatura Getúlio Vargas. Repito: única
aceitável.
Mário [de Andrade]
Renato Lemos. Bem traçadas linhas: a história do Brasil em
cartas pessoais. Rio de Janeiro: Bom Texto, 2004, p. 305.
Acerca da crise política ocorrida em fins da
Primeira República, a carta do paulista Mário de
Andrade ao mineiro Carlos Drummond de
Andrade revela
O a simpatia de Drummond pela candidatura
Vargas e o desencanto de Mário de Andrade
com as composições políticas sustentadas
por Vargas.
O a veneração de Drummond e Mário de
Andrade ao gaúcho Getúlio Vargas, que se
aliou à oligarquia cafeeira de São Paulo.
& a concordância entre Mário de Andrade e
Drummond quanto ao caráter inovador de
Vargas, que fez uma ampla aliança para
derrotar a oligarquia mineira
O a discordância entre Mário de Andrade e
Drummond sobre a importância da aliança
entre Vargas e o paulista Júlio Prestes nas
eleições presidenciais.
@ o otimismo de Mário de Andrade em relação
a Getúlio Vargas, que se recusara a fazer
alianças políticas para vencer as eleições.