Estrada
Esta estrada onde moro, entre duas voltas do caminho,
Interessa mais que uma avenida urbana.
Nas cidades todas as pessoas se parecem.
Todo mundo é igual. Todo mundo é toda a gente.
Aqui, não: sente-se bem que cada um traz a sua alma.
Cada criatura é única.
Até os cães.
Estes cães da roça parecem homens de negócios:
Andam sempre preocupados.
E quanta gente vem e vai!
E tudo tem aquele caráter impressivo que faz meditar:
Enterro a pé ou a carrocinha de leite puxada por um
bodezinho manhoso.
Nem falta o murmúrio da água, para sugerir, pela voz
dos símbolos,
Que a vida passa! que a vida passa!
E que a mocidade vai acabar.
BANDEIRA, M. O ritmo dissoluto. Rio de Janeiro: Aguilar, 1967.
A lírica de Manuel Bandeira é pautada na apreensão
de significados profundos a partir de elementos do
cotidiano. No poema Estrada, o lirismo presente no
contraste entre campo e cidade aponta para
D o desejo do eu lírico de resgatar a movimentação
dos centros urbanos, o que revela sua nostalgia com
relação à cidade.
a percepção do caráter efêmero da vida, possibilitada
pela observação da aparente inércia da vida rural.
a opção do eu lírico pelo espaço bucólico como
possibilidade de meditação sobre a sua juventude.
a visão negativa da passagem do tempo, visto que
esta gera insegurança.
a profunda sensação de medo gerada pela reflexão
acerca da morte.
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