(...) conceitualizar o fascismo como populista é um erro, embora a
intensidade da propaganda política, a mobilização das massas e o carisma
pessoal aparentemente possam identificar o populismo com fascismo.
Mario Sznajder. “Fascismo e Intolerância”. In: Maria Luiza Carneiro e Frederico Croci
(orgs). Tempos de fascismos: Ideologia — Intolerância — Imaginário. São Paulo: EDUSP/
Imprensa Oficial/ Arquivo Público do Estado de São Paulo, 2010, p.30
O erro citado consiste no fato de que
a)
nos fascismos categorias inteiras são excluídas, com base em definições
de “inimigo”, ou seja, a negação da cidadania é uma consequência quase
natural de não se pertencer à comunidade. Ao contrário, no populismo, as
coalisões interclasses e entre diversos grupos são a condição sine qua non
de sua existência.
no populismo, a preocupação com a legitimação das ações do líder forçou a
criação de órgãos destinados apenas à propaganda política e à censura. Nos
fascismos, por sua vez, a adesão em massa ao chefe de governo excluiu ações
propagandísticas mais incisivas, assim como o surgimento de oposições
relevantes.
no nazi-fascismo o centro de ações girou em torno do combate ao comunismo
e ao liberalismo, representantes de uma época decadente e retrógrada. No
populismo, os discursos liberais e socialistas do governo serviram, antes de
tudo, para manipular as massas, perpetuando líderes carismáticos no poder.
tanto nos fascismos quanto no populismo grupos que se pretendam
autônomos ou aqueles que não tenham aderido ativamente ao nacionalismo
extremo são perseguidos ou mesmo eliminados. No entanto, a preocupação,
dos governantes populistas, com uma legitimação de ações obrigou-os a
conceder garantias a alguns desses grupos.
nos fascismos a liderança personificada exigia a radicalização com os
opositores, eliminando-os e criando um clima de insegurança, em que
qualquer pessoa, em potencial, era vista como inimiga do Estado. No
populismo, apesar do autoritarismo, o pluripartidarismo impedia ações
eficazes no combate à oposição.