Na obra Canaã, dentre as temáticas discutidas pelos imigrantes alemães, está a questão das raças e da
miscigenação. O personagem Lentz afirma que
“Não acredito que da fusão com espécies radicalmente incapazes resulte uma raça sobre que se
possa desenvolver a civilização. Será sempre uma cultura inferior, civilização de mulatos, eternos
escravos em revoltas e quedas. Enquanto não se eliminar a raça que é o produto de tal fusão,
a civilização será sempre um misterioso artifício, todos os minutos rotos pelo sensualismo, pela
bestialidade e pelo servilismo inato do negro. O problema social para o progresso de uma região
como o Brasil está na substituição de uma raça híbrida, como a dos mulatos, por europeus. A
imigração não é simplesmente para o futuro da região do País um caso de simples estética, é antes
de tudo uma questão complexa, que interessa o futuro humano.”
ARANHA, G.. Canaã. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1982.
O recorte do diálogo de Lentz apresenta visão sobre os resultados da miscigenação no Brasil que se contrapõe
à perspectiva sociológica de
a) Sérgio Buarque de Holanda, uma vez que, para este intelectual, o problema da complexa formação histórica da
sociedade brasileira era consequência da divisão da sociedade entre o meio urbano patriarcal e a modernização
do meio rural, não estando, portanto, relacionado à sua composição étnico-racial.
b) Gilberto Freyre, pois, para este intelectual, a miscigenação brasileira, ou a mestiçagem, em seus termos,
não poderia ser vista como atraso ou um problema social, mas era, justamente, a construtora da principal
particularidade cultural da sociedade brasileira, que a diferenciava daquelas onde imperava a segregação racial.
c) Roberto DaMatta, tendo em vista que, para este intelectual, desde a colonização portuguesa os grupos étnico-
raciais já se misturavam, sendo a fonte do desenvolvimento da Colônia e da Metrópole, assim como foi com a
chegada dos africanos que, para sobreviverem, mantinham relações estreitas com a população indígena.
d) Darcy Ribeiro, posto que, para este intelectual, a mistura étnica do povo brasileiro, iniciada com a chegada
dos africanos escravizados, possibilitou o desenvolvimento econômico do país, pois eram esses mestiços que
trabalhavam na lavoura do café e da cana-de-açúcar, sendo, portanto, heróis nacionais.
e) Karl Marx, na medida em que, para este intelectual, a miscigenação proporcionava crescimento quantitativo
da população brasileira, sendo esse aumento necessário para o setor produtivo, pois, assim, ter-se-ia a oferta
de mão de obra e, ao mesmo tempo, a oferta de consumidores para os produtos produzidos, o que deveria
incentivar a miscigenação.