Brancos continuam recebendo 50% a mais do que negros no Brasil
Em 2012, início da série histórica do IBGE para a medição, o rendimento médio mensal dos
brancos foi 57,3% maior que o dos negros. Em 2019, quase nada havia mudado: a população
branca recebeu, em média, 56,6% a mais que a população negra. [...] Os números também
mostram que as pessoas negras ainda ocupam postos de trabalho mais precários. Os dados
mais recentes, de 2015, revelam que os negros eram maioria em atividades braçais como cultivo
de mandioca (85, 9%), serviços domésticos (64,7%) e construção civil (63,9). Por outro lado, eles
são minoria em áreas que exigem maior qualificação como informática (31%), arquitetura e
engenharia (26,9%) e em cargos de gestão empresarial (23,6%).
[..] Pequenos avanços
Um dos artigos do Estatuto (da Igualdade Racial), ressaltado pelos especialistas, é o gue trata
da adoção de ações afirmativas para acesso ao ensino superior e ao trabalho. "A cota é a única
política em vigor no Brasil para reverter esse círculo vicioso que mantém a população negra
em uma posição inferior”, afirmam os especialistas. Os resultados da política de cotas já podem
ser observados. Dados do IBGE mostram que a presença de negros nas universidades dobrou
entre 2011 e 2019, passando de 9% para 18%. Os números são referentes a estudantes que
frequentam o ensino superior na idade adequada, entre 18 e 24 anos. "Ainda vemos uma grande
desigualdade, mas já há um avanço tímido". As cotas raciais enfrentaram - e ainda enfrentam -
uma grande resistência entre os brasileiros. [...] Mais uma vez, é o racismo se manifestando.
Brancos continuam recebendo 50% a mais do que negros no Brasil. 20/07/2020. Disponível em:< https://economia.uol.com.br/noticias/estadao-conteudo/2020/07/20/abismo-
economico-entre-brancos-e-negros-persiste.htm (Adaptado).
A afirmação do sociólogo Florestan Fernandes sobre a sociedade brasileira que tem poder explicativo para
os dados apresentados no texto acima é a de que
a) “O Brasil colônia havia se estruturado como uma economia exportadora de produtos tropicais e que essa
organização fora imposta pela metrópole portuguesa. A economia colonial foi marcada pela especialização
em determinados ramos produtivos, sobretudo no setor primário, especialização que se manteve após
a emancipação da colônia iniciada com a vinda da família imperial portuguesa para o Brasil, mantendo,
ainda, a estrutura de dominação social do período colonial, que continuou segregando ricos e pobres”.
b) “O trabalho assalariado livre tornou-se dominante no país, impulsionando uma rápida urbanização, o que
gerou novas contradições e problemas sociais, como o desempre o, sobretudo para os negros, que não
se qualificaram, preferindo continuar na zona rural, no trabalho de” cultivo da terra, da criação de gado
ou do extrativismo, atividades econômicas que entraram em declínio devido à crise de superprodução
ocorrida nos Estados Unidos, o que comprometeu esse setor e seus profissionais, deixando ostrabalhadores
negros sem condições financeiras”.
c) “A desagregação do regime escravocrata e senhorial se operou, no Brasil, sem que se cercasse a
destituição dos antigos agentes de trabalho escravo de assistência e garantias que os protegessem
na transição para o sistema de trabalho livre. Os senhores foram eximidos da responsabilidade pela
manutenção e pela segurança dos libertos, sem que o Estado, a Igreja ou qualquer outra instituição
assumisse encargos especiais, que tivessem por objeto prepará-los para o novo regime de organização
da vida e do trabalho”.
d) “A miscigenação seria a solução para retirar os negros da condição de subalternidade a que foram
deixados no período colonial, mas para isso, era necessária a constituição de leis que possibilitassem o
relacionamento interétnico, bem como o ingresso dos negros nas estruturas educacionais da sociedade,
em busca de melhorar a qualificação profissional, para à ascensão econômica e social, mas essas leis
não foram implementadas e os negros ficaram relegados à sua própria sorte”.
e) “O subdesenvolvimento da sociedade brasileira era resultado da forma de organização social que
concentrava renda, terra e indústrias nas mãos dos grandes empresários, excluindo a população mestiça
da possibilidade de mobilidade de classe, situação que precisava ser modificada no século XX, para que
o Brasil pudesse se desenvolver de forma sustentável, inserindo todos os grupos sociais no processo,
pois, somente com a participação de todos na economia, seria possível uma sociedade mais justa.”