“A despeito do intenso processo de industrialização, da maciça penetração
de capitais estrangeiros, da crescente presença de corporações multinacionais, do
explosivo crescimento urbano, da melhoria dos índices de alfabetização e das várias
tentativas de “modernizar” o país, feitas de um por sucessivos governos civis e militares,
as palavras amargas de um notável crítico literário e analista social, Silvio Romero,
pronunciadas há mais de um século, lamentando a dependência econômica em relação
aos capitais estrangeiros e a incapacidade da República de incorporar os benefícios do
progresso à grande maioria da população e de criar uma sociedade realmente
democrática, soam ainda hoje verdadeiras.” (COSTA, Emília Viotti da. Da Monarquia à
República. São Paulo: Unesp, 2010, p. 9)
A nota à edição do Livro que Emília Viotti da Costa faz nos leva a perceber que existem
estruturas sistêmicas no Brasil que nos remetem a uma história de longa duração. Assim,
podemos corretamente afirmar sobre o Brasil pós-independência que:
As elites brasileiras que tomaram o poder em 1822 compunham-se de fazendeiros, comerciantes
e membros de sua clientela, ligados à economia de exportação e interessados no rompimento
das estruturas tradicionais de produção cujas bases eram o sistema de trabalho escravo e a
grande propriedade;
A presença do herdeiro da Casa de Bragança e de pouca capacidade de mobilização política no
Brasil permitiu a oportunidade de organizar um sistema político fortemente descentralizado que
permitia aos municípios e províncias intensa autonomia frente ao poder central;
Dentro da tradição colonial, no pós-independência, o Estado foi subordinado à Igreja e o
catolicismo mantido como religião oficial, ainda que fosse permitido o culto privado de outras
religiões;
Após a independência foi adotado o voto censitário que excluía a maior parte da população;
No pós-independência, o trabalho escravo foi mantido, mas foram superadas as relações de
poder baseadas na troca de favores e a patronagem foi substituída pela mobilidade social com
base no mérito.