Na obra "Fenomenologia da percepção" o filósofo Merleau-Ponty pensa a relação do homem com o mundo
por mediação do corpo. Expõe o filósofo que com a noção de esquema corporal, não é apenas a unidade
do corpo que é descrita de uma maneira nova, é também, através dela, a unidade dos sentidos e a unidade
do objeto. Meu corpo é o lugar, ou antes a própria atualidade do fenômeno de expressão (Ausdruck),
nele a experiência visual e a experiência auditiva, por exemplo, são pregnantes uma da outra, e seu
valor expressivo funda a unidade antepredicativa do mundo percebido e, através dela, a expressão verbal
(Darstellung) e a significação intelectual (Bedeutungf). Meu corpo é a textura comum de todos os objetos
e é, pelo menos em relação ao mundo percebido, o instrumento geral de minha "compreensão".
MAURICE, Merleau-Ponty. Fenomenologia da percepção.
Um exemplo da sociedade atual que reflete esse movimento fenomenológico existencial é
a) o corpo modelado pela indústria da moda é a objetivação de um exercício de liberdade pelo mundo capitalista,
pelo qual o sujeito se constitui por um espírito de alienação materialista. Nesse sentido, o corpo é objeto do
espírito livre.
b) a doutrinação do corpo, defendida pelas religiões doutrinárias, define o corpo como um mal em si mesmo
por ser determinado por uma natureza caótica, devido às paixões. Nesse sentido, a religião expressa a forma
oriunda dos poderes divinos.
c) o corpo da travesti é a realização de uma determinação do sujeito que constitui uma percepção como uma
parte que concretiza a existência. Nesse sentido, o corpo é o lugar pelo qual as relações se efetivam, pois,
com essa harmonização entre objeto e sentido se objetiva a unidade.
d) a robótica do corpo, como expressão do transumanismo, é uma determinação de aperfeiçoamento do corpo.
Nesse sentido, as tecnologias são anexadas ao corpo humano sem reconhecimento dessa condição (humana)
em suas limitações.
e) o corpo fisiculturista, que não é considerado um esporte reconhecido, pode levar o corpo à modelagem
espiritual. Nesse sentido, exacerba práticas físicas por uma determinação cartesiana em que esse espírito
determina o corpo, por um desequilíbrio nessa relação.