Sobre os processos de colonização levados a cabo por países ocidentais e a construção de uma identidade cultural
imperialista, Edward Said aponta:
“As formas culturais ocidentais podem ser retiradas dos compartimentos autônomos em que se mantêm protegidas e colocadas
no meio dinâmico global criado pelo imperialismo, ele mesmo revisto como uma disputa viva entre Norte e Sul, metrópole e
periferia, brancos e nativos. Assim, podemos considerar o imperialismo como um processo que ocorre como parte da cultura
metropolitana, a qual às vezes reconhece, às vezes obscurece a atividade sustentada do próprio império. A questão
fundamental — bastante gramsciana — é a maneira pela qual as culturas nacionais inglesa, francesa e americana mantiveram a
hegemonia nas periferias. Como se obteve dentro delas e como se consolidou sem cessar a anuência para se exercer O
domínio distante de povos e territórios e povos nativos? [...] Mesmo que concedêssemos, como muitos o fazem, que a política
externa norte-americana é sobretudo altruísta e devotada a objetivos irreprocháveis, como a liberdade e a democracia, há
espaço para o ceticismo. [...] Não estamos repetindo, como nação, o que a França e a Inglaterra, Espanha e Portugal, Holanda
e Alemanha, fizeram antes de nós? E, no entanto, não tendemos a nos considerar de alguma forma alheios às aventuras
imperiais mais sórdidas que precederam as nossas? Ademais, não há um pressuposto inquestionado de nossa parte de que
nosso destino é governar e liderar o mundo, destino este que atribuímos a nós mesmos como parte de nossa errância por
regiões bravias?”.
(SAID, Edward. Imperialismo e cultura. São Paulo: Companhia das Letras, 1999, p. 87-92.)
Descreva, a partir da passagem acima, como as expressões culturais de uma determinada sociedade desenvolvida
podem auxiliá-la na legitimação da dominação política da metrópole sobre a periferia.