Os homens, diz antigo ditado grego, atormentam-se
com a ideia que têm das coisas e não com as coisas em
si. Seria grande passo, em alívio da nossa miserável con-
dição, se se provasse que isso é uma verdade absoluta.
Pois se o mal só tem acesso em nós porque julgamos que
o seja, parece que estaria em nosso poder não o levarmos
a sério ou o colocarmos a nosso serviço. Por que atribuir à
doença, à indigência, ao desprezo um gosto ácido e mau
se o podemos modificar? Pois o destino apenas suscita
o incidente; a nós é que cabe determinar a qualidade de
seus efeitos.
(Michel de Montaigne. Ensaios, 2000. Adaptado.)
De acordo com o filósofo, a diferença entre o beme o mal
(A) representa uma oposição de natureza metafísica, que
não está sujeita a relativismos existenciais.
(B) relaciona-se com uma esfera sagrada cujo conheci-
mento é autorizado somente a sacerdotes religiosos.
(C) resulta da queda humana de um estado original de
bem-aventurança e harmonia geral do Universo.
(D) depende do conhecimento do mundo como realidade
em si mesma, independente dos julgamentos humanos.
(E) depende sobretudo da qualidade valorativa estabele-
cida por cada indivíduo diante de sua vida.