A anomalia dos pés às avessas deve parecer uma
espécie de privilégio sobrenatural entre povos andejos. É
bem compreensível o fato de esse privilégio surgir associa-
do com frequência a entidades mitológicas dotadas de força
mágica. Na Amazônia, o curupira aparece como um cabocli-
nho calvo, de enormes orelhas e um só olho. A preocupação
constante entre os índios de dissimular ao inimigo todas as
pistas de sua marcha transparece em tais lendas.
(Sérgio Buarque de Holanda. Caminhos e fronteiras, 1994. Adaptado.)
De acordo com o excerto, o mito do curupira é
(A) a expressão de modos de existência de populações em
constantes deslocamentos em uma natureza cheia de
mistérios.
(B) a cristalização de um conjunto de narrativas urbanas
sobre os habitantes dos territórios mais pobres do país.
(C) a síntese das culturas indígenas, negras e europeias for-
madoras da nacionalidade brasileira nos tempos coloniais.
(D) a versão ameríndia de lendas das civilizações greco-roma-
nas transferidas para o novo mundo pelos colonizadores.
(E) a representação medieval das feições do demônio ensi-
nadas às populações americanas pelos padres católicos.