Soneto
Já da morte o palor me cobre o rosto,
Nos lábios meus o alento desfalece,
Surda agonia o coração fenece,
E devora meu ser mortal desgosto!
Do leito embalde no macio encosto
Tento o sono reter!... já esmorece
O corpo exausto que o repouso esquece...
Eis o estado em que a mágoa me tem posto!
O adeus, o teu adeus, minha saudade,
Fazem que insano do viver me prive
E tenha os olhos meus na escuridade.
Dá-me a esperança com que o ser mantive!
Volve ao amante os olhos por piedade,
Olhos por quem viveu quem já não vive!
AZEVEDO, A. Obra completa Fio de Janio: Nova Aguiar 2000.
O núcleo temático do soneto citado é típico da segunda
geração romântica, porém configura um lirismo que
o projeta para além desse momento específico. O
fundamento desse lirismo é
o
o
o
o
e
a angústia alimentada pela constatação da
ireversibilidade da morte.
a melancolia que frustra a possibilidade de reação
diante da perda.
o descontrole das emoções provocado pela
autopiedade.
o desejo de morrer como alívio para a desilusão
amorosa.
o gosto pela escuridão como solução para o
sofrimento.