Assim como o camponês, o mercador está a principio
submetido, na sua atividade profissional, ao tempo
meteorológico, ao ciclo das estações, à imprevisibilidade
das intempéries e dos cataclismos naturais. Como, durante
muito tempo, não houve nesse domínio senão necessidade
de submissão à ordem da natureza e de Deus, o mercador
só teve como meio de ação as preces e as práticas
supersticiosas. Mas, quando se organiza uma rede
comercial, o tempo se torna objeto de medida. A duração
de uma viagem por mar ou por terra, ou de um lugar para
outro, o problema dos preços que, no curso de uma mesma
operação comercial, mais ainda quando o circuito se
complica, sobem ou descem — tudo isso se impõe cada vez
mais @ sua atenção. Mudança também importante: o
mercador descobre o preço do tempo no mesmo momento
em que ele explora o espaço, pois para ele a duração
essencial é aquela de um trajeto.
Jacques Le Goff. Para uma outra Idade Média
Petrópolis: Vozes, 2013. Adaptado.
O texto associa a mudança da percepção do tempo pelos
mercadores medievais ao
a) respeito estrito aos princípios do livre-comércio, que
determinavam a obediência às regras internacionais de
circulação de mercadorias.
b) crescimento das relações mercantis, que passaram a
envolver territórios mais amplos e distâncias mais
longas.
c) aumento da navegação oceânica, que permitiu o
estabelecimento de relações comerciais regulares com a
América.
d) avanço das superstições na Europa ocidental, que se
difundiram a partir de contatos com povos do leste
desse continente e da Ásia.
e) aparecimento dos relógios, que foram inventados para
calcular a duração das viagens ultramarinas.