Um crescente protagonismo escravo, pontuado pelas
lutas por direitos, pela ampliação de espaços de
negociação e, no limite, já na década de 1880, pelo
próprio fim do regime servil, no bojo da campanha
abolicionista, se sobrepôs à consolidação de uma
sociedade escravista madura. (...) Nesse quadro, havia
fatores de natureza conjuntural, tanto no plano
nacional quanto internacional, como a participação de
libertos e setores populares na guerra do Paraguai e o
impacto de seu retorno ao Brasil após a vitória; o
surgimento de uma nova opinião pública crítica à
ordem estabelecida (...); o isolamento internacional da
escravidão após a derrota dos Estados Confederados
na guerra civil norte-americana. Todos esses fatores
somados contribuíram para que as lutas e práticas
cotidianos dos escravos ressignificassem e
transformassem disposições seculares da escravidão
brasileira, conferindo-lhes, então o sentido claro de
busca da liberdade como direito, não apenas
individual, mas de toda a população cativa.
Adaptado de SALLES, Ricardo. In: CARVALHO, José
Murilo de (Org.). Nação e cidadania no Império:
novos horizontes. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira,
2007.
Em relação ao fim da escravidão enquanto regime de
trabalho legalizado durante o Brasil Império, é
possível afirmar que resultou
a) da iniciativa da monarquia brasileira, preocupada
em capitalizar a mudança do contexto internacional
em relação à escravidão após a guerra civil norte-
americana para atender os interesses dos cafeicultores
paulistas.
b) da mobilização da população escravizada e de
abolicionistas em contexto marcado pela convergência
de fatores externos e internos ao país, sob a premissa
da liberdade como um direito coletivo.
c) da preocupação dos proprietários de terra em
adotar o regime de servidão como recurso para
reverter o isolamento econômico dos países que
adotavam a escravidão após a guerra civil norte-
americana.
d) da luta pela liberdade como direito individual
inalienável, que mobilizou veteranos da Guerra do
Paraguai (1864-1870) associados a libertos e
escravizados em campanhas abolicionistas.
e) da aliança estabelecida com a Inglaterra após a
independência do Brasil em relação a Portugal, em
1822, com abolição imediata do tráfico de pessoas
escravizadas para o território brasileiro.