“Como na Argentina: Os corpos brotam do chão, como na
Argentina. Corpo não é reciclável. Corpo não é reduzível. Dá
para dissolver os corpos em ácido, mas não haveria ácido que
chegasse para os assassinados do século. Valas mais fundas,
mais escombros, nada adianta. Sempre sobra um dedo
acusando. O corpo é como o nosso passado, não existe mais
e não vai embora. Tentaram largar o corpo no meio do mar e
não deu certo. O corpo boia. O corpo volta. Tentaram forjar o
protocolo — foi suicídio, estava fugindo — e o corpo desmentia
tudo. O corpo incomoda. O corpo faz muito silêncio.
Consciência não é biodegradável. Memórias não apodrecem.
Ficam os dentes.”
(Luís Fernando Veríssimo, “Como na Argentina”, em A mãe do Freud. Porto
Alegre: L&PM Editores, 1985, p. 46.)
O texto se refere
a) ao trauma coletivo das políticas repressivas e crimes de
Estado praticados pelos regimes ditatoriais latino-
americanos.
b) à memória dos exilados fugidos dos regimes ditatoriais
latino-americanos da segunda metade do século XX.
c) ao movimento dos Montoneros, em busca de seus filhos
e netos desaparecidos no período da ditadura na
Argentina.
d) aos julgamentos em andamento contra o clientelismo do
regime peronista praticada na Argentina.