As caatingas
“Então, a travessia das veredas sertanejas é mais exaustiva que a de uma
estepe nua.
Nesta, ao menos, o viajante tem o desafogo de um horizonte largo e a
perspectiva das planuras francas.
Ao passo que a caatinga o afoga: abrevia-lhe o olhar; agride-o e estonteia-o:
enlaça-o na trama espinescente e não o atrai; repulsa-o com as folhas urticantes.
como espinho, com os gravetos estalados em lanças: e desdobra-se-lhe na frente
léguas, imutável no aspecto desolado: árvores sem folhas. de galhos estorcidos e
secos, revoltos, entrecruzados. apontando rijamente no espaço ou estirando-se
flexuosos pelo solo, lembrando um bracejar imenso, de tortura, da flora agonizante.
Embora esta não tenha as espécies reduzidas dos desertos — mimosas tolhiças
ou eufórbias ásperas sobre o tapete de gramíneas murchas — e se afigure farta de
vegetais distintos, as suas árvores, vistas em conjunto, semelham uma só família
de poucos gêneros. quase reduzida a uma espécie invariável. divergindo apenas
no tamanho, tendo todas a mesma conformação. a mesma aparência de vegetais
morrendo. quase sem troncos. em esgalhos logo ao irromper do chão.”
CUNHA, Euclides da. Os sertões. São Paulo: Francisco Alves/Publifolha,
2000. p. 37-8.
A partir dessa leitura, é INCORRETO afirmar que, no trecho transcrito, o autor
A) apresenta a caatinga como uma vegetação de reduzida biodiversidade, embora
de significativa multiplicidade de formas adaptativas.
B) caracteriza a vegetação da caatinga como repulsiva, agressiva, por causa dos
espinhos, galhos retorcidos, folhas urticantes.
C) deixaentrever o caráter decidual da vegetação quando fala de árvores sem folhas,
de galhos estorcidos e secos.
D) descreve a vegetação sertaneja no período das secas; daí, as expressões que
remetem à agonia, morte, desolação.