Texto 2
O Assinalado
Tu és o louco da imortal loucura,
o louco da loucura mais suprema.
Aterra é sempre a tua negra algema,
prende-te nela extrema Desventura.
Mas essa mesma algema de amargura,
mas essa mesma Desventura extrema
faz que tu'alma suplicando gema
e rebente em estrelas de ternura.
Tu és o Poeta, o grande Assinalado
que povoas o mundo despovoado,
de belezas eternas, pouco a pouco.
Na Natureza prodigiosa e rica
toda a audácia dos nervos justifica
os teus espasmos imortais de louco!
BILAC, Olavo. In: BARBOSA, Frederico (Org.). Clássicos da poesia brasileira.
Rio de Janeiro: O Globo, Klick Editora, 1997, pp.163-164.
Texto 3
Casablanca
Te acalma, minha loucura!
veste galochas nos teus cílios tontos e habitados!
Este som de serra de afiar as facas
não chegará nem perto do teu canteiro de taquicardias...
Estas molas a gemer no quarto ao lado
Roberto Carlos a gemer nas curvas da Bahia
O cheiro inebriante dos cabelos na fila em frente no cinema...
As chaminés espumam pros meus olhos
As hélices do adeus despertam pros meus olhos
Os tamancos e os sinos me acordam depressa na madrugada feita de binóculos de gávea
e chuveirinhos de bidê que escuto rígida nos lençóis de pano
CESAR, Ana Cristina. A teus pés. São Paulo: Brasiliense, 1982, p.60.
a) Determine as diferenças no emprego da linguagem e na concepção formal entre os poemas de Olavo Bilac e Ana
Cristina César.
b) Indique a figura de linguagem presente no seguinte verso do texto 3: “Os tamancos e os sinos me acordam depressa
na madrugada feita de binóculos de gávea”.