Texto 2
Numa versão apócrifa da Odisseia, Lion Feuchtwanger propôs que os marinheiros enfeitiados por Circe e trans-
formados em porcos gostaram de sua nova condição e resistiram desesperadamente aos esforços de Ulisses para
quebrar o encanto e trazé-los de volta à forma humana. Quando informados por Ulisses de que ele tinha encontrado
as ervas mágicas capazes de desfazer a maldição e de que logo seriam humanos novamente, fugiram numa veloci-
5 dade que seu zeloso salvador não pôde acompanhar. Ulisses conseguiu afinal prender um dos suínos; esfregada com
a erva maravilhosa, a pele erigada deu lugar a Elpenoros — um marinheiro, como insiste Feuchtwanger, em todos os
sentidos mediano e comum, exatamente “como todos os outros, sem se destacar por sua força ou por sua esperteza”
O “libertado” Elpenoros não ficou nada grato por sua liberdade, e furiosamente atacou seu “libertador”:
Então voltaste, 6 tratante, ó intrometido? Queres novamente nos aborrecer e importunar, queres
10 novamente expor nossos corpos ao perigo e forçar nossos corações sempre a novas decisões? Eu
estava tão feliz, eu podia chafurdar na lama e aquecer-me ao sol, eu podia comer e beber, grunhir e
guinchar, e estava livre de meditações e dúvidas: “O que devo fazer, isto ou aquilo? Por que vieste?
Para jogar-me outra vez na vida odiosa que eu levava antes?
Texto adaptado de BAUMAN, Zygmunt. Modernidade líquida. Trad. Plínio Dentzien. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2001. p.25.
a) No Texto 2, o conceito de liberdade é visto de uma forma relativa, e não absoluta. Explique como se estabelece essa
relativização, tomando como base o comportamento de Ulisses e Elpenoros.
b) Reescreva a frase a seguir, substituindo gostar por conformar-se e esforços por batalha.
Os marinheiros transformados em porcos gostaram de sua nova condição e resistiram desesperadamente aos esforços
de Ulisses para quebrar o encanto de Circe.